POESÓ

TUDO PODE VIRAR PÓ
OU
POEMA





















terça-feira, 31 de julho de 2012

Daquelas garotas

Sabe você é daquelas garotas
que só podemos ver em filmes
ou capas de revistas
e imprevisíveis sonhos.
Sabe você é daquelas garotas
que nunca poderemos abraçar
com leveza ou força
e os seus lábios são morangos silvestres
- frutos doces e selvagens -
que nunca poderemos provar.
Só há de restar muita água na boca
de quem a desejar.
Sabe eu ainda tive a sorte
de lhe contemplar,
de ouvir, ao longe, a sua voz tão doce
e sentir o vento em meu rosto
que, um dia, ousou esvoaçar
os seus cabelos de seda e me hipnotizar.
Sabe você é daquelas garotas
que tocam tão fundo o coração
 

daquelas garotas
- marotas, malhadas, sapecas -
que nos fazem de petecas
e entram, sem dor, em nossas carentes peles
sem o brilho e o frescor do amor;
daquelas garotas
que gravamos para sempre
com a vaga e pretensa sensação
de sentir a profundeza da pele
que guarda os mais delicados carinhos.
Sabe você é daquelas garotas
que tentamos esquecer
e jamais conseguimos;
daquelas garotas que travam os nossos passos
como se estivessemos próximos
a fatídicos abismos.
Sabe, quer saber de verdade,
você é daquelas garotas que nos deixam
corajosos para confessarmos
o quanto somos covardes
para aceitar e enfrentar a realidade.
Sabe você é daquelas garotas
que nós desejamos toda a felicidade do mundo!
você é daquelas garotas
que não deixam apenas candies lembranças,
mas, sim, a própria herança
de um tempo feliz e repleto de esperanças
que não volta mais.
Sabe você é daquelas garotas
que representam tudo de bom em nossas vidas...
daquelas garotas...que cruzam os nossos destinos...
e nos deixam sem saída
 
Carlos Gutierrez

Perdidos na Noite

Perdidos na Noite
Perdidos na noite estamos
perdidos em seu fascínio
Perdidos na noite vamos

movidos em delírios
entre colírios e martírios
perdidos na noite somos
seres corujas
entre fugas e encontros
somos estrelas sujas
tentando brilhar
Perdidos na noite estamos
em ruas becos e avenidas
que parecem abismos
John cavalga sem cavalo
Rico arrasta os seus pés
e eu levito em um sonho de amor
Perdidos na noite vamos
em busca de sonhos concretos
desejos indiscretos
no fundo todos somos poetas
com muitas palavras e silêncios
há um certo encanto nisso
revirar as latas de lixo
unir o sublime ao promíscuo
adaptar-se ao que a vida nos oferece
John personifica o eterno cowboy
um eterno garanhão
Ratzo veste todas as dores do mundo
e mesmo trôpego caminha
enquanto eu movido
aos ventos de um devaneio
fico no meio entre os dois
nem antes nem depois
durante enquanto a noite
se faz o gás de um tambor
prestes a explodir

Carlos Gutierrez

Assim eu tento ser

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é...Autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... Amor-próprio.
Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... Simplicidade.
Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes.
Hoje descobri a... Humildade.
Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude.
Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é... Saber viver!!!
Charles Chaplin

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Chet Baker - Embraceable You

CONFISSÕES

Amor adolescente
Apaixonite aguda
Perder 5 quilos em poucos dias
no fim até ajuda
para melhorar a aparência
e enfrentar os espelhos
Noites em claro
misturando livros
gibis e encartes de letras
de velhos vinis embaçados
procurando palavras imagens e sons
que possam lhe trazer
bem perto de mim
Paz e inquietude
o que pode imobilizar
de forma serena ou rude
e o que induz à uma atitude
ponderada ou exaltada
ao expor defeitos e virtudes
medo de lhe perder
coragem de lhe pedir desculpas
na amplitude desse romance
que permite tantas releituras
e confia em seus olhos complacentes
em sua ternura
Lembranças de um beijo
para refrescar o meu coração
e arrefecer possíveis ciúmes
quando for verão
e aquecê-lo quando for inverno
Felicidade suprema
de uma doce ilusão
Entender o suícidio
ao ouvir ao pé de ouvido
uma Chet Baker canção!

Carlos Gutierrez

domingo, 29 de julho de 2012

O Medo

Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.

E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.

Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.

Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.

Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.

Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.

Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?

Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas

do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.

Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.

E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.

O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
 
 
 
 
Carlos Drummond de Andrade

Carinhos no Papel

Esboço um sorriso...
a vida ainda pode ser um paraíso
Rascunho uma esperança
Viver é consetir improvisos
Amo todos os meus lápis e outros
apetrechos de escritas e desenhos
lápis virgens e carcomidos
borrachas duras compactas e macias
apontadores roedores
estiletes que perfuram madeiras e vidros
esfuminhos que deslizam carinhos
em negros carvões de salgueiro...
um arsenal inteiro á procura de um desenho
ou de um simples poema
 
Carlos Gutierrez

MIRAGEM

Vontade de lhe abraçar bem forte
sentir o seu perfume
a sua pele
absorver em meu rosto
o decalque da sua face
e em meus lábios
o gosto morango silvestre
do seu beijo
Vontade de sentir a sua presença
de repousar a minha cabeça
em seus ombros
de sentir os dedos das suas mãos macias
sobre os meus cabelos
vontade de ouvir
a sua doce e afável voz

Carlos Gutierrez

Cinzas e Fogueiras

De ARNALDO ANTUNES




Antônio Marcos - Todo Sujo de Batom

Todo Sujo de Batom

Eu estou muito cansado
Do peso da minha cabeça,
Desses dez anos passados, presentes
Vividos entre o sonho e o som!
Eu estou muito cansado
De não poder falar palavra
Sobre essas coisas sem jeito
Que eu trago no peito
E que eu acho tão bom.
Quero uma balada nova
Falando de brotos, de coisas assim
De money, de lua, de ti e de mim
Um cara tão sentimental!
Quero uma balada nova
Falando de brotos, de coisas assim
De money, de lua, de ti e de mim
Um cara tão sentimental!
Quero a sessão de cinema das cinco
Pra beijar a menina e levar a saudade
Na camisa toda suja de batom!
Quero a sessão de cinema das cinco
Pra beijar a menina e levar a saudade
Na camisa toda suja de batom!


Belchior

sábado, 28 de julho de 2012

Percevejo

Lampejos
estrelas e lampiões acesos
clima de festa
viradas
recomeços
juntar as luzes do que eu conheço
com as sombras ainda não esclarecidas
Lampejos
almejo o que não vejo
mas sinto percebo
percevejo


Carlos Gutierrez

Ressaca

A ressaca
o amor não é a ela imune
ao mesmo tempo
que nos salva
nos pune
não temos saídas
desde quando entramos
intrincado labirinto
somos becos escuros
quando o escondemos
somos avenidas largas
expostas a todos os perigos
quando vamos
lúcidos ou insanos
ao seu reencontro


Carlos Gutierrez

Doses de Twitter

UM GORÓ
SEM DÓ
SEM PIEDADE
PARA AFASTAR O FRIO
E A ANSIEDADE
UM GORÓ SÓ
NÃO FAZ TEMPESTADE
UM GORÓ
PARA ENGOLIR
A GOROROBA


Carlos Gutierrez

Doses de Twitter

SE EU FÔSSE MANDRAKE
 TIVESSE CAVANHAQUE 
E UM FRANCÊS CONHAQUE 
UMA CARTOLA MÁGICA 
UM FRAQUE 
TALVEZ EU ESPANTASSE 
ARAQUE 
ESSE FRIO
 ESSE BAQUE
 
 
c
Carlos Gutierrez

PÓ...POEMA

TUDO

PODE

VIRAR

OU

POEMA


Carlos Gutierrez

Elis Regina - "20 Anos Blues" - Ensaio - MPB Especial

Falha de Memória

Só sei que eu a encontrei
não sei bem onde
dentro de um vagão de trem
ou de um obsoleto bonde
dentro de um vaso solitário
ou de um copo improvisado
eu a encontrei em alguns
desses estados
mas ela estava intacta
esperando o beijo colibri
eu a vi assim
brotar de um sonho enfim
com as suas delicadas pétalas
e o seu doce perfume
sem queixumes
ou ciúmes
de uma abelha sequer
eu a encontrei enfim
num imenso jardim
vestida levemente violeta
foi a ultima que eu vi
se me lembro bem
e a mais linda que beijei!


Carlos Gutierrez

20 Anos Blues

Fico nos meus 20 anos blues
vou comprar
uma bola de futebol americano
serei ao mesmo tempo o quarterback
e o wide receiver
passarei a bola prá mim mesmo
no Super Bowl
e eu super bobo
Ah! esse brincar solitário
onde tudo é permitido
comprar um All Star legítimo
e jogar esse tênis meia boca fora
Dar um tapa no visual
ser sentimental
prá esconder as rugas e rancores
e talvez ganhar um olhar da garota linda

Um olhar à queima roupa
e entrar num romance
difícil de sair depois
com a mesma sensação
de que quando
a gente entra no mundo de Dylan
e se perde e se encontra
nos labirintos de suas letras


Carlos Gutierrez

Pretensão

Ah se eu fôsse igual a Woody
soubesse criar roteiros
dirigir filmes
tocar clarinete ser músico
desfrutar de um amor
em um banco de jardim de Manhattan
Mas a vida é assim mesmo
ficar Charlie Brown
em muitas tirinhas
até que o cerol
quebre uma das linhas


Carlos Gutierrez

Poesó

Só as palavras
só as letras do alfabeto
sem o afeto

de imagens e sons

Só as palavras
os símbolos gráficos
as tintas
frescas ou descascadas

as frases completas
ou interrompidas
livres ou corrídas

só as palavras
o emaranhado da gramática
os apelos dos verbos
os emotivos adjetivos

os rascunhos
e tudo o que conseguiu
ser aceito no papel

só as palavras
os manuscritos
os rascunhos
os dedos as mãos os pulsos
os  punhos
que sugerem gritos
de euforia ou de dor


Eu namoro as palavras
e as liberto
quando lembram
opressões e desertos
e as devoro quando remetem
a beijos e desejos
Eu as acaricio
quando descrevem
peles e pétalas


Pois é
Poesó
ser apenas palavras


algumas conseguem 
ser versos
outras escorrem e
fogem das páginas


Carlos Gutierrez